quarta-feira, 9 de abril de 2014

Da autoridade temporal – Martinho Lutero



[...] o papa e os bispos deveriam ser verdadeiramente bispos e pregar a palavra de Deus. Mas eles negligenciam fazê-lo e se tornaram príncipes temporais governando com leis que só dizem respeito ao corpo e aos bens. Inverteram totalmente a ordem das coisas; deveriam governar as almas interiormente pela palavra de Deus; em lugar disso, governam exteriormente castelos, cidades, países e os habitantes e martirizam as almas por uma indizível violência assassina.
Entre os cristãos não pode haver autoridade superior; pelo contrário, cada um é submisso a todos os outros ao mesmo tempo. Assim Paulo diz na Carta aos Romanos, 12:3: “Que cada um tenha os outros como superiores a si próprios.” E na 1ª Carta de Pedro. 5:5. “Sejam todos submissos uns aos outros.” É também o que Cristo quer, segundo o Evangelho de Lucas, 14:10: “Quando o convidarem a bodas, tome o assento no último lugar.”
Não há entre os cristãos ninguém que seja superior aos outros, a não ser unicamente a Cristo. Que espécie de autoridade pode haver, pois, quando todos são iguais e têm o mesmo direito, o mesmo poder, o mesmo bem e a mesma honra e quando ninguém cobiça ser superior aos outros, mas cada um quer ser subordinado aos outros?
Certamente, onde houver seres desse gênero, seria impossível estabelecer uma autoridade superior, nem mesmo alguém haveria de querer, pois, sua maneira de ser e sua natureza não suportam ter um superior, uma vez que nenhum deles quer e pode ser superior. Mas onde não houver seres desse gênero, não há tampouco verdadeiros cristãos.
Mas os que são portanto os padres e bispos?
- Resposta: Seu governo não é nem uma autoridade superior nem um poder, mas um serviço e uma função, pois, não são colocados mais alto, nem são melhores que os outros cristãos. É por isso que não devem impor nem leis nem mandamentos aos outros, sem que esses tenham concordado e tenham dado sua permissão; seu governo consiste unicamente em difundir a palavra de Deus, em guiar graças a ela os cristãos e em triunfar sobre a heresia.
De fato, como já foi dito, não se pode governar os cristãos de outra forma senão unicamente pela palavra de Deus, pois, os cristãos devem ser governados na fé e não por meio externos. E a fé não pode vir pela palavra humana, mas somente pela palavra de Deus, como diz Paulo na Carta aos Romanos, 10:17: “A fé vem do que se ouve e o que se ouve vem da palavra de Deus.” Quanto àqueles que não creem, não são cristãos e tampouco fazem parte do reino de Cristo, mas do reino do mundo, a fim de que se possa coagi-los e regê-los pela espada e pelo governo exterior. Enquanto os cristãos fazem por si e sem coação tudo o que é bom e se satisfazem por si com a palavra de Deus. [...]

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